Esta última versão aqui apresentada do tema de E. W. Nevin é obviamente a mais distante da composição original, transformando o tema clássico numa canção leve dos anos do "baby boom" de que Doris Day foi protagonista em vários dos seus filmes. O tema original dá lugar a uma versão vocal, não deixando de ser curioso uma letra (tudo menos sofisticada), provavelmente destinada a um intérprete masculino, ser cantada por uma voz feminina.
No meio de tamanho distanciamento do tema original, poder-se-ia perguntar porque terei escolhido a versão de Doris Day para fechar (até mais ver) a revisitação das versões do belo tema de Nevin. A resposta é simples: pela qualidade esplendorosa da voz de Doris Day, que aqui se desdobra nos dois registos, cantar e cantarolar/trautear. A peça "Narcissus" de Nevin transformou-se nesta versão numa canção de verão e juventude, em tudo correspondendo à época de optimismo e esperança então vivida nos EUA e a tudo o que representava a voz de Doris Day nesse contexto, fazendo assim esquecer o desacerto entre a letra da canção e a voz feminina, desacerto esse que baralhava o entendimento tradicional dos papéis dos dois géneros, masculino e feminino. Não me parece no entanto ter havido nenhuma intenção crítica nessa confusão, o motivo deve ter sido meramente prático: a voz tinha de ser a de Doris Day, o texto de Michael Feahy e Howard Barnes ficou como estava apesar do desacerto, e a cantora é acompanhada pelo Pete Cavanaugh Trio (vozes masculinas), numa gravação nos estúdios da Radio Recorders em Hollywood a 21 de agosto de 1950.