Durante a minha infância e adolescência ouvia-se muita música em casa dos meus pais e muito variada - mas disso falarei numa próxima vez... o meu irmão Zé Pedro tinha-se apaixonado pela música de jazz, e enquanto eu ouvia os Beatles, Sylvie, Françoise e Johnny, no quarto ao lado ele ouvia sobretudo jazz, e fui-me habituando a gostar cada vez mais daqueles sons novos que ele ia descobrindo e fazendo-me descobrir... Nessa época e por causa, em grande parte, da música, desenvolvemos uma bela relação de diálogo, tínhamos grandes conversas sobre os músicos de jazz que ele escutava. Muito depressa elegemos Louis Armstrong e Billie Holliday como os nossos preferidos, sem ligarmos à nossa empregada que achava que justamente estes dois eram os que tinham vozes piores, em especial ele, que ela sem cerimónia nenhuma classificava como "voz de bêbado"... o mais curioso, logo descobrimos, é que era em grande parte até por causa dessas vozes e não apesar delas que Louis e Billie eram tão especiais...
Hoje, o jazz é cada vez mais parte da minha vida, e recordo sempre Louis Armstrong numa dimensão que é, em meu entender, a qualidade que lhe é mais própria e fonte de todas as suas outras qualidades - refiro-me à ternura de Mr. Satchmo. Ela está na origem antes de mais do seu humor, mas também da sua versatilidade como artista e entertainer, da sua capacidade teatral e histriónica, do seu talento de comunicador.
Por isso, dos muitos filmes em que Louis Armstrong participou, de entre aqueles de que mais imediatamente me lembro - High Society, com Bing Crosby, Grace Kelly e Frank Sinatra, de 1956, The 5 Pennies, com Danny Kaye, de 1959, e Hello Dolly!, de Gene Kelly, com Barbara Streisand, de 1968, é ainda um outro filme aquele que escolho para deixar uma interpretação de Mr. Satchmo em que é especialmente visível essa ternura de que falava. Trata-se de um filme alemão de 1959, La Paloma, em que Louis apenas aparece no final do filme, contracenando e cantando com uma menina de 12 anos, Gabriele Clonisch, uma canção de embalar. Oiçamos então, graças ao YouTube, a "Uncle Satchmo's Lullaby", mais uma recordação do tempo dos HI-FI, era eu sweet sixteen e estava prestes a começar a cantar -
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